domingo, 13 de fevereiro de 2011

GRUTA DE SEU JEFRÉSSO

Xilogravura de Carlos Henrique para composição do cenário da peça A DONZELA E O CANGACEIRO, de Cacá Araújo, que estreará em maio de 2011, com a Cia. Cearense de Teatro Brincante

Seu Jefrésso:

(Fora de cena. Misterioso, com voz de velho, macia, cheia, sombria e grave)

Quem istá chamando a isfinge?
Quem ousa mi dispertá?

(Aparece solenemente com música condizente com sua realeza. É uma versão sertaneja das esfinges gregas: um velho magro, semblante terno, alto, apoiado num cajado, calçando sandálias de couro, roupas e longas barbas brancas, duas asas de trançados de palmeiras verdes)

Edimundo Virgulino:

(Humilde)

Sô um simples cangacêro
Eu só vim li consutá 

(Levanta-se, mas continua em posição de reverência. Convicto. Com serenidade)

U sentido da mi’a vida
É a conquista da cura
Pru mal qui sofre uma flô
Inucente, bela i pura... 

Tombém quero a liberdade
Dus vivente da floresta
Pois aqui a crueldade
Ambição, prevessidade   
Matô muito i pôco resta

Seu Jefrésso:

(Simpático)

Percebo tua bondade
Porém num posso mudá
U rumo da umanidade

(Levanta o cajado e soam trovoadas com raios incandescentes. Sons de cantos e pisadas em ritual. Canta em tom de mistério)

Proporei u meu enigma
Morre si num decifrá
Istauta di barro i lata 
É u qui vô ti transformá

(Sonoro e firme)

Decifra ô ti condena:

(Compassado)

Di manhã tem quato pé
É criatura terrena
Mêi dia passa a tê dois
Tem fecundidade plena

Máis us pé, di tardezinha
Pode sê quato di novo
Seno dois iscundidinho
Du jeito du pinto im ovo

I di noite vai tê trêiz
U tipo di criatura
Mi diga di uma só vêiz

(Nota: Trecho da peça A DONZELA E O CANGACEIRO, de Cacá Araújo)

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