domingo, 6 de fevereiro de 2011

800.000 REAIS POR CABEÇA... QUEM DÁ MAIS?

Foto: Cacá Araújo (2009)


Não me causa admiração a Assembléia Legislativa do Ceará ser quase 100% (cem porcento) submissa ao governador. Além da partilha de cargos e favores menores aos parlamentares, cada um dos 47 (quarenta e sete) deputados estaduais tem direito a indicar aplicação de verbas públicas no valor de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) como se membro do executivo fosse. 

Se é assim mesmo que está se dando a relação entre esses dois poderes, com a confusão de funções, pouco ou nada se legisla, menos se fiscaliza, e ficam todos irmanados numa sodomia administrativa que parece democratização, mas que na verdade amarra nossos "fiscais" e "legisladores" no pé do mourão com a cancela bem trancada. 

A política se apequena numa insossa discussão acerca dos valores destinados por este ou aquele deputado para uma ou outra obra aqui ou acolá. O executivo estadual legisla e executa sem qualquer obstáculo ou discussão, em um regime quase imperial. 

Em recente análise divulgada pela imprensa local, os cientistas políticos André Haguete e Regina Serqueira, da UFC e UECE, afirmaram que o legislativo do Ceará não existe, dada a carência de oposição e a subserviência dos parlamentares às vontades e humores do executivo. 

Haguete declarou que "o jogo democrático foi criado necessitando de oposição. Em um governo sem oposição, não existe possibilidade de isso ser positivo para a sociedade, que fica enfraquecida". 

Serqueira, em sua colocação, disse que “a oposição é muito importante para que se tenha um debate. O Legislativo é uma via, que a meu ver está quase que totalmente de braços atados. É preciso um exercício muito profundo de Filosofia para que se possa mudar essa situação, pois a sociedade sofre e a Democracia só tende a perder com um governo que usa a ferramenta de poder que une tudo, causando assim, a letra morta, a fala morta”.

Digo eu que o modelo político-gerencial adotado pelos Ferreira Gomes de Sobral é retrógrado e monárquico, não admitindo o contraditório da oposição, cooptando os pensamentos contrários e os depositando todos numa espécie de vala comum de comportamento único, artificial, de aplauso fácil e joelhos dobrados.

Tivessem eles intenções verdadeiramente democráticas, penso que recursos como os ditos R$ 37.600.000,00 (trinta e sete milhões e seiscentos mil reais) distribuídos para a farra executiva dos 47 (quarenta e sete) legisladores estaduais seriam destinados proporcionalmente aos 184 (cento e oitenta e quatro) municípios cearenses. Até mesmo porque esse dinheiro é arrecadado nos municípios através do eficiente sistema fazendário do Estado.

Tenho notícia da existência de apenas 01 (um) deputado estadual de oposição. Louvo sua índole. Entretanto, não desejo que interpretem minhas palavras como típicas de rancorosos oposicionistas, mas como de um cidadão que deseja contribuir no debate quase inexistente acerca de políticas governamentais e ações de fortalecimento da democracia.

Sou do Crato... Sou do Cariri!

Foto: Lucas Carvalho
Cacá Araújo
Professor, Folclorista e Dramaturgo
Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
06 de fevereiro do ano 2011. 

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