terça-feira, 23 de agosto de 2011

DEFENDAMOS O SÍTIO FUNDÃO!



O que restou de placa afixada pelo Governo Estadual na entrada do Sítio Fundão, bem próximo da guarita onde deveria ter um guarda mas está abandonada (foto de Cacá Araújo)



A população do Crato, do Cariri e o do Ceará está indignada e revoltada com o descaso do governo estadual para com um dos maiores patrimônios ecológicos e históricos do Ceará: o Sítio Fundão, em Crato-CE, reserva de 97 hectares pertencente ao Estado. Resquício de mata atlântica, fauna e flora diversificadas, o leito do rio Batateiras, ruínas de casarão, barragem feita por escravos, uma casa de taipa com dois pavimentos e um antiqüíssimo engenho de pau que, segundo o historiador J. de Figueiredo Filho, fora "introduzido no Brasil por volta do século XVII, graças à iniciativa dum sacerdote católico, castelhano, vindo do Peru (...)¹".

Segundo o ambientalista Ed Alencar, aquele secular engenho de pau, único na cidade do Crato e uma das poucas relíquias ainda existentes no Nordeste brasileiro, símbolo de importante fase do nosso desenvolvimento econômico e social, ficou fora do processo de restauração e, "depois de três anos nas mãos do governo, continua no abandono", correndo o risco de se perder para sempre. Ele relata que, em março deste ano, o novo Presidente do COMPAM, Paulo Henrique Lustosa, fez politicagem lá na reserva quando convidou a sociedade e autoridades para inaugurar apenas uma placa indicando a restauração da casa, obra feita por pressão do Ministério Público. "Prometeram restaurar o engenho e até hoje...", afirma com revolta completando que ficou sabendo por vias oficiais que mais nada do que estava projetado e foi apresentado na URCA iria ser realizado, apesar da liberação de mais de 1 milhão de reais cujo destino não se sabe. 

Leiam a emocionante crônica escrita por Ed Alencar:

DE PAI PARA FILHO - O HERDEIRO DA ÚLTIMA MOAGEM                           

Ainda criança montado na garupa do cavalo, agarrado a cintura do seu pai Abdon, o promissor ecologista mirim, Jefferson da Franca Alencar, deixava o casarão branco e azul onde moravam, ainda hoje existente às margens da estrada do Lameiro, para trabalharem na tradicional moagem da cana-de-açúcar no velho engenho de pau do Sítio Fundão.

Entre 1927 e 1928, após a morte dos seus pais, Jefferson herdou o Fundão e o velho engenho para dar continuidade à principal atividade que existia no sítio, as moagens, dedicando-se, posteriormente, a fazer da propriedade uma reserva ecológica.

Em 1949 teve a triste missão de encerrar o ciclo familiar das moagens, motivado pela praga da cana que atingiu na época os canaviais da região, além das dificuldades de encontrar bois adestrados, para a formação de juntas que tracionavam as moendas do velho engenho gemedor, tão famoso pela sua estrutura e engenharia seculares. Eu não alcancei estes bons tempos de moagens, mas me lembro que quando criança corria em volta do velho engenho aposentado para espantar os morcegos que se penduravam no telhado do galpão e ouvia as histórias que meu avô contava sentado na calçada ou andando pela mata.

O tempo passou! O herdeiro, Deus chamou! E hoje, ao olhar o que resta desse passado, que dia-a-dia vem morrendo nas mãos do Governo do Estado por falta de atitude, expresso meu sentimento de revolta pelo descaso com a história que é do Crato, do Cariri, do Ceará, do Mundo!!! 

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¹FILHO FIGUEIREDO, José de. Engenhos de Rapadura do Cariri. Fortaleza-CE: (Fac-símile da edição de 1958, publicada  pelo Serviço Nacional de Informação Agrícola, Rio de Janeiro) Coedição Secult-CE, Edições URCA, Edições UFC, p. 14, 2010.


Ruínas do engenho de pau do Sítio Fundão (foto de Cacá Araújo)

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